Governo recomenda venda de batatas 'feias, mas comestíveis' para lidar com o aumento de preços
Repórter de agro e macroeconomia Publicado em 11 de junho de 2025 às 15h41. Última atualização em 11 de junho de 2025 às 16h35.
A produção de vodca da Rússia registrou queda de 13% de janeiro a maio de 2025, totalizando 25 milhões de decalitros, em comparação com o mesmo período de 2024, segundo dados do Serviço Federal de Controle dos Mercados de Álcool e Tabaco do país. O principal motivo: a falta de batata . Como o tubérculo é essencial para a produção da bebida russa e está mais caro e escasso, o impacto foi imediato na produção.
A Rússia enfrenta uma verdadeira crise nos preços da batata , situação reconhecida até por Vladimir Putin, presidente do país. Em maio deste ano, Putin itiu que os russos "não têm batatas suficientes".
O vice-primeiro-ministro Dmitry Patrushev, responsável pelo setor agrícola, itiu que o governo foi lento demais na implementação de medidas para estabilizar o mercado de alimentos.
Desde o início de 2025, os preços do tubérculo subiram mais de 52%, segundo o Ministério da Economia, pressionando a inflação no país , que encerrou o primeiro trimestre em 8,2%. Em abril, o número foi de 6,2%.
A Pyaterochka, rede de lojas de conveniência istrada pelo X5 Retail Group, vende batatas da safra antiga por 84 rublos (US$ 1,06) o quilo e batatas da safra nova por 120 rublos (US$ 1,53) o quilo, em comparação com a média de 43 rublos por quilo no mesmo período de 2024.
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A disparada nos preços da batata é causada por múltiplos fatores, sendo o principal o clima. A colheita de 2024 foi fortemente prejudicada, com a produção caindo quase 12% em comparação com 2023, totalizando 17,8 milhões de toneladas.
Além das condições climáticas, a redução na área cultivada de batatas também contribui para o aumento dos preços. Em 2023, a Rússia teve uma colheita recorde de batatas, o que provocou queda nos preços a tal ponto que o cultivo se tornou pouco atrativo para os produtores.
Como resultado, em 2024, os agricultores optaram por substituir as terras de batata por cultivos mais rentáveis, como oleaginosas, beterraba e outras culturas.
Além disso, a guerra com a Ucrânia elevou os custos de fertilizantes, combustível, logística e outros fatores, enquanto a taxa básica de juros do Banco Central permaneceu alta, em 21%.
Uma grande parte da safra colhida era de baixa qualidade, o que acelerou a deterioração e intensificou a competição entre os varejistas por batatas ainda em boas condições. Neste ano, o mercado de batatas da Rússia tem sido sustentado principalmente pelas importações. Os desembarques aumentaram mais de 3,5 vezes.
Segundo a Potato Union, sindicato local do setor, as batatas estrangeiras representavam entre 30% e 40% do estoque nas principais redes de varejo no primeiro trimestre de 2025, comparado a apenas 10% no mesmo período de 2024.
Os principais fornecedores incluem Egito, China, Paquistão, Turquia, Israel, Bielorrússia, Azerbaijão, Geórgia e até Mongólia. Apesar das importações, os preços continuam elevados.
O vice-presidente da Duma Estatal, Boris Chernyshov, sugeriu que o Ministério do Desenvolvimento Econômico implementasse uma regulamentação governamental de preços para as batatas, mas a medida não foi adotada.
Até o momento, o governo permitiu a importação isenta de impostos de 150 mil toneladas de batatas entre o início de 2025 e o final de julho, com planos de aumentar esse limite para 300 mil toneladas.
O Serviço Federal Antimonopólio da Rússia, responsável por monitorar práticas de preços, recomendou que as redes de supermercados flexibilizassem seus requisitos quanto ao formato e tamanho das batatas nas prateleiras, permitindo a venda de produtos mais "feios", mas ainda comestíveis.
Alguns governos regionais foram mais longe, proibindo o transporte de batatas para exportação.
Segundo a ministra da Agricultura russa, Oksana Lut, os preços das batatas começarão a cair em julho, com o início da colheita deste ano. Até lá, ela e o ministro da Indústria e Comércio, Anton Alikhanov, prometeram cortar as batatas de suas dietas "para deixar mais para o mercado".
O Ministério da Agricultura também anunciou que, em 2025, ao contrário do ano anterior, a área plantada com batatas crescerá 2,3%, o que corresponde a 7 mil hectares a mais. Até lá, a batata seguirá cara.