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Energia renovável é um dos caminhos para a transição para uma economia de baixo carbono no Brasil. (Fahroni/Envato)
Colunista
Publicado em 9 de junho de 2025 às 10h00.
Última atualização em 9 de junho de 2025 às 19h03.
Com o esfriamento dos compromissos climáticos em grandes potências, como os Estados Unidos e partes da Europa, a transição energética global entrou em um momento de hesitação. Para investidores, o dilema é real: projetos verdes ainda enfrentam custos iniciais mais altos e retornos mais lentos do que os da indústria fóssil. E essa hesitação tira a pressão pelo chamado “green bônus”, que continua sendo pouco recompensado.
Alguns movimentos recentes confirmam esse enfraquecimento. Em 2023, o Reino Unido adiou de 2030 para 2035 a meta de proibir novos veículos a combustão. Nos Estados Unidos, o Inflation Reduction Act, embora celebre a energia limpa, também prevê subsídios à exploração doméstica de petróleo e gás.
Na China, mesmo com a liderança em solar e eólica, houve um aumento expressivo na aprovação de usinas a carvão — somente em 2024, foram iniciadas construções que somam 94,5 gigawatts (GW) de capacidade, o maior volume desde 2015, segundo levantamento do Global Energy Monitor, divulgado pelo Poder360. A COP28, em Dubai, refletiu essa ambiguidade: reconheceu a necessidade de uma “transição energética”, mas evitou compromissos firmes com a eliminação dos combustíveis fósseis.
Nesse cenário de incerteza, o Brasil pode se destacar com uma vantagem estratégica clara e rara. Aqui, a energia renovável não é apenas limpa; é também a mais barata — e com escala difícil de encontrar em outros países.
Contudo, essa vantagem é bastante afetada pela pesada estrutura de encargos, subsídios cruzados e tributos, que encarecem a conta de eletricidade dos consumidores — inclusive para o setor produtivo. Essa distorção compromete a atratividade e reduz a competitividade do país na corrida global por investimentos sustentáveis.
Empresas globais, pressionadas por metas ESG, estão dispostas a investir em regiões onde possam operar com menor pegada de carbono. O Brasil pode se tornar um destino estratégico para cadeias produtivas eletrointensivas, data centers e indústrias de baixo carbono — desde que modernize seu arcabouço regulatório e promova uma racionalização dos custos do setor. Entre 2015 e 2022, o país já atraiu US$ 114,8 bilhões em investimentos estrangeiros em energias renováveis, representando 11% do total aplicado em países emergentes, de acordo com relatório da ONU.
Transformar nossa vantagem natural em diferencial competitivo exige visão de longo prazo, estabilidade institucional e capacidade de integração ao comércio internacional verde.
A transição energética pode ter perdido tração global, mas no Brasil ela continua sendo um ativo estratégico. Aproveitá-la é uma decisão política, econômica e geopolítica. O futuro da energia pode ser brasileiro, se escolhermos liderá-lo com inteligência e pragmatismo.