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Pesquisa aponta que fundos de investimento ainda estão longe de atender às necessidades de economia net-zero (Getty Images/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 12 de junho de 2025 às 06h00.
Uma nova pesquisa BloombergNEF revela que os fundos globais de investimento estão direcionando quase o dobro de recursos para ativos de combustíveis fósseis em comparação aos investimentos em energia de baixo carbono. De acordo com o estudo, para cada dólar investido em petróleo, gás natural ou carvão, apenas 48 centavos são aplicados em fontes de energia limpa, um reflexo claro do descomo entre os investimentos atuais e as necessidades de transição energética.
O relatório, que analisou quase 70 mil fundos, introduz a nova métrica Energy Supply Fund-Enabled Capex Ratio (ESFR), para quantificar o impacto dos portfólios no setor energético. Essa métrica tem como objetivo medir a proporção de gastos com capex (capital expenditure, ou despesa de capital) direcionados à energia limpa em comparação aos combustíveis fósseis, permitindo que os investidores avaliem o alinhamento climático de seus portfólios.
O estudo aponta que, em termos globais, a relação média do ESFR é de 0,48 para 1, bem abaixo da média de 1,1 para 1 observada no investimento total em energia. Além disso, a discrepância entre os investimentos atual e os necessários para limitar o aquecimento global a 1,5°C é ainda maior, com a meta exigindo uma relação de 4,8 para 1 até 2030. A análise revela que, apesar de alguns fundos de infraestrutura e mercados privados aumentarem seu investimento em energia limpa, as grandes empresas de petróleo e gás continuam dominando as carteiras de fundos, dificultando a transição para um modelo de energia mais sustentável.
A discrepância no ESFR tem várias explicações. Entre elas, o investimento contínuo de grandes empresas de petróleo e gás em ativos fósseis, que dominam boa parte dos fundos de investimento. Já as empresas que alocam grandes somas em energia limpa são menores e menos representadas em índices tradicionais, o que reduz sua presença nas carteiras de fundos.
Os fundos de crédito, por outro lado, apresentaram uma relação mais favorável, com ESFR de 0,7 para 1, superando os fundos de ações, que mostraram uma relação de 0,4 para 1. Esse aumento nas relações de crédito pode ser explicado pela venda de dívidas pelas empresas de petróleo e gás e pela adição de alavancagem por empresas de baixo carbono, com o mercado de crédito capturando uma parcela maior desses investimentos.
Nos mercados privados um papel crescente no direcionamento de capital para ativos de energia limpa. Empresas como Brookfield e BlackRock mostram relações de ESFR acima de 1,2 para 1, destacando um foco maior na transição energética em comparação aos fundos de índices tradicionais.
Embora a mudança ainda seja gradual, a crescente participação de fundos privados e o aumento do capital direcionado a ativos de baixo carbono representam um sinal positivo. Esses fundos têm a vantagem de não estarem tão atrelados aos preços de mercado voláteis dos combustíveis fósseis, como o petróleo e o gás, o que permite um foco mais constante em soluções sustentáveis.
Apesar do aumento no interesse por soluções de energia limpa, a análise da BloombergNEF indica que os fundos de investimento ainda estão longe de atender às necessidades de uma economia net-zero (sem emissões líquidas de carbono).
Ryan Loughead, associado de pesquisa da BloombergNEF e principal autor do estudo, aponta que investir em soluções de baixo carbono é o papel mais importante que os investidores podem desempenhar na transição energética. “A ESFR ajuda a realinhar a indústria de gestão de ativos, incentivando os investidores a direcionarem recursos para as infraestruturas e tecnologias que a transição realmente precisa."