Com o amadurecimento dos investidores e a busca das empresas por alternativas de financiamento mais eficientes, essa ferramenta tende a se tornar cada vez mais presente no dia a dia financeiro das companhias nacionais. (ThinkStock/Pixland)
Publicado em 13 de junho de 2025 às 17h37.
Imagine uma empresa que precisa pagar a folha salarial na próxima semana, mas seus clientes só quitarão as faturas no mês seguinte. Em vez de correr atrás de empréstimos bancários burocráticos, ela pode emitir um título no mercado e captar o dinheiro em poucos dias. Essa é a função dos commercial papers, uma ferramenta financeira que vem ganhando espaço no Brasil.
Esses títulos funcionam como uma espécie de "empréstimo direto" entre empresas e investidores, cortando o intermediário bancário. A companhia emite o papel prometendo devolver o valor com juros em prazo determinado, enquanto o investidor compra esperando um retorno atrativo.
Commercial papers são títulos de dívida de curto prazo que empresas emitem para captar recursos rapidamente no mercado financeiro. Diferentemente dos empréstimos tradicionais, não am pela burocracia bancária e chegam diretamente aos investidores.
No Brasil, empresas de capital fechado podem emitir esses papéis com prazo máximo de 180 dias, enquanto as de capital aberto têm até 360 dias. O prazo curto é proposital: serve para resolver necessidades financeiras pontuais, não para investimentos de longo prazo.
Uma característica marcante é que são títulos sem garantia real. Isso significa que o investidor confia apenas na capacidade de pagamento da empresa, sem ter um bem como respaldo. Por isso, geralmente apenas companhias com boa saúde financeira conseguem emitir.
A regulamentação dos commercial papers no Brasil ou por mudanças importantes nos últimos anos. A Lei nº 14.195/2021, conhecida como Lei do Ambiente de Negócios, foi um divisor de águas ao simplificar as regras e ampliar o o ao instrumento.
Antes às sociedades anônimas, agora sociedades limitadas e cooperativas agropecuárias também podem emitir esses títulos. A mudança democratizou o o ao financiamento via mercado de capitais para empresas menores.
A Instrução CVM nº 566/2015 estabelece os procedimentos para oferta pública desses papéis, definindo como as informações devem ser divulgadas aos investidores. Transparência é palavra-chave: quanto mais clara a situação financeira da empresa, maior a confiança do mercado.
A legislação também determinou que a emissão deve ser escritural, eliminando títulos físicos. Tudo acontece eletronicamente através de instituições autorizadas pela CVM, tornando o processo mais seguro e rastreável.
Para empresas emissoras:
Para investidores:
Para as empresas, a principal vantagem é a velocidade. Enquanto um empréstimo bancário pode levar semanas para ser aprovado, commercial papers podem ser emitidos em poucos dias. Além disso, os custos costumam ser menores que os juros bancários.
A flexibilidade também impressiona. A companhia pode emitir exatamente o valor que precisa, no prazo ideal para suas necessidades. Se precisa de R$ 2 milhões por 90 dias para cobrir o capital de giro, pode fazer uma emissão sob medida.
Do lado dos investidores, o atrativo está na rentabilidade superior aos produtos bancários tradicionais. Como assumem o risco direto da empresa, são remunerados com taxas mais interessantes.
O principal risco é o crédito: se a empresa entrar em colapso financeiro, o investidor pode perder tudo. Diferentemente de um empréstimo com garantia, não há bem algum para recuperar o valor investido.
A liquidez também preocupa. Embora teoricamente possam ser negociados no mercado secundário, na prática, é difícil vender o título antes do vencimento. Quem compra geralmente fica até o final.
Commercial papers se consolidaram como alternativa inteligente para empresas que precisam de recursos rápidos sem se endividar a longo prazo. São especialmente úteis para cobrir necessidades sazonais ou aproveitar oportunidades de negócio que surgem de repente.
Apenas empresas com boa reputação financeira conseguem emitir esses títulos com sucesso. O mercado é seletivo e pune rapidamente companhias com histórico duvidoso, elevando drasticamente as taxas exigidas ou simplesmente rejeitando as emissões.
Para investidores, representam uma forma de diversificar a carteira e obter rentabilidade superior aos produtos tradicionais. Mas exigem análise cuidadosa do emissor e consciência de que o dinheiro ficará "preso" até o vencimento.