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Dividendo polpudo na Rumo ajuda a Cosan, mas divide investidores

Distribuição de R$ 1,5 bilhão pegou o mercado de surpresa e trouxe dúvidas sobre o melhor uso dos recursos, em meio aos investimentos programados para os próximos anos

Rumo surpreendeu o mercado ao divulgar que distribuiria R$ 1,5 bilhões em dividendos, a serem pagos no dia 25 de junho (Rumo/Divulgação)

Rumo surpreendeu o mercado ao divulgar que distribuiria R$ 1,5 bilhões em dividendos, a serem pagos no dia 25 de junho (Rumo/Divulgação)

Juliana Alves
Juliana Alves

Repórter de mercados

Publicado em 12 de junho de 2025 às 18h33.

A empolgação do mercado com o anúncio do pagamento de dividendos polpudos da Rumo (RAIL3) durou pouco. As ações da companhia chegaram a valorizar 3% nesta quinta-feira, 12. Porém, o ânimo virou depois por volta das 10h e o papel fechou com queda próxima de 1%.

A volatilidade reflete o clima de incerteza que envolve a situação financeira da empresa e de sua controladora, a Cosan (CSAN3).

Ontem, após o fechamento da bolsa, a Rumo surpreendeu com uma distribuição de R$ 1,5 bilhão em dividendos, a serem pagos no dia 25 de junho. O valor corresponde a R$ 0,81 por ação ordinária e representa quase 70% do lucro líquido ajustado de 2024.

A empresa justificou a decisão afirmando que atingiu um nível de maturidade em seus negócios, o que permite que o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) financie tanto o capex quanto a distribuição de dividendos.

Segundo o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de Exame), por um lado, a falta de retornos para os acionistas tem sido apontada como um fator negativo pelo investidores por conta do histórico de aumentos de capital demandados pela Rumo.

"Por outro, acreditamos que o mercado naturalmente vai se perguntar: seria isso uma medida de alívio para a holding Cosan [maior acionista com 30% do capital] para ajudar no seu processo de desalavancagem">

Embora o aumento do dividendo signifique um acréscimo de apenas 0,15 vez na alavancagem da Rumo, elevando a relação dívida líquida/EBITDA para 1,7 vezes até o final do ano, em comparação com 1,65 vezes no primeiro trimestre, os analistas do Itaú BBA acreditam que os investidores podem ter reações divididas em relação ao anúncio.

Para alguns, a distribuição de dividendos, se mais recorrente, pode ser vista como uma estratégia positiva para gerar valor enquanto a companhia segue em crescimento.

Porém, outros podem questionar se a utilização desses recursos para reduzir a alavancagem ou para pagar antecipadamente as taxas de concessão, que custam inflação mais 11% ao ano, seria uma alternativa mais vantajosa, dizem os analistas do Itaú BBA.

"Ainda que vejamos méritos nos dois lados, acreditamos que boa parte dessa discussão pode se tornar menos importantes se a companhia for bem sucedida em vender o Terminal Santos, cuja transação foi cancelada na semana ada, e é estimada em R$ 600 milhões no total", escreveu o analista Daniel Gasparete.

Para a Cosan, controladora da Rumo, a distribuição de dividendos é uma boa notícia, pois ela receberá uma parte significativa do valor.

No entanto, o Goldman Sachs ressalta que o impacto dessa distribuição será insuficiente para melhorar a relação de cobertura de juros da Cosan para níveis mais seguros.

O banco estima que a relação de cobertura de juros da Cosan deverá ficar abaixo de 1x até o final deste ano, o que ainda representa um desafio financeiro para a companhia.

Outro ponto de preocupação é a renovação das concessões de Malha Oeste e Malha Sul, que têm gerado incertezas no mercado. Embora essas concessões não sejam tão relevantes quanto outras, como a Malha Norte, o processo regulatório pode levar a maiores compromissos de capital, gerando mais pressão financeira sobre a Rumo.

O BTG Pactual, no entanto, acredita que ao menos uma das concessões poderá ser resolvida ainda em 2025, com a Malha Oeste sendo a mais rápida. PAra os analistas, os investidores podem até questionar o momento de da distribuição de capital, dado o investimento da empresa no projeto Lucas do Rio Verde.

Porém, levando em consideração o desempenho operacional da Rumo, o banco encontra tendências de melhora tanto nos preços de frete quanto no desempenho de volumes, conforme reportado pela companhia em maio.

Apesar da reação mista do mercado, o Itaú BBA e o BTG Pactual mantêm suas recomendações de compra para as ações da Rumo, com um preço-alvo de R$ 25 para o final de 2025, o que representa um potencial de valorização de 32% em relação ao preço atual de R$ 19,23.

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