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O dólar renova mínimas e já se aproxima dos R$ 5,50. Até onde vai a queda?

Tendência de dólar mais fraco por conta das políticas de Donald Trump é vento de cauda para a divisa brasileira, mas uma queda estrutural abaixo dos R$ 5,50 depende muito da situação fiscal, apontam especialistas

Dólar: políticas de Donald Trump enfraquecem a divisa (Designed by/Freepik)

Dólar: políticas de Donald Trump enfraquecem a divisa (Designed by/Freepik)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 12 de junho de 2025 às 06h00.

“Deus inventou o câmbio para humilhar os economistas”, diz um ditado do mercado, mostrando a imprevisibilidade das moedas.

Mas, com o dólar apontando para baixo e renovando mínima atrás de mínima nos últimos pregões para o menor patamar desde outubro, a pergunta é inevitável: até onde vai a queda?

Antes de mais nada, a ordem dos fatores importa: mais do que uma valorização do real, trata-se de um enfraquecimento do dólar.

É um movimento global, puxado por alguma perda de confiança na economia dos Estados Unidos em meio ao caos tarifário e as políticas erráticas do presidente, como pela própria vontade patente de Donald Trump de reduzir o que ele acredita que seja uma sobrevalorização da moeda americana, que prejudica a competitividade da indústria local.

Quando observada a conjuntura doméstica no Brasil, o único motivo para a apreciação do real foi uma correção da desvalorização extrema ao fim de 2024, quando foi apresentado o pacote de corte de gastos.

Com poucos cortes e o anúncio da isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, a percepção de risco disparou e a moeda ficou em níveis estressados.

“Mas hoje é consenso que foi uma reação um pouco exagerada, o dólar a R$ 7 seria uma possibilidade caso o Banco Central parasse de vender dólar [o que não ocorreu]. Aquele exagero no final do ano ado foi sendo compensado ao longo dos primeiros meses de 2025”, afirma Danillo Igliori, economista-chefe da Nomad.

Para fins de comparação, o economista cita que o dólar estava em R$ 4,85 no começo de 2024. Agora, está acima de R$ 5,50 – ou seja, a divisa ainda tem um longo caminho a percorrer para atingir patamares de anos anteriores.

Outro fator para real mais forte é o petróleo, que sobe 7,6% em dólar. “Como somos exportadores de petróleo, essa somatória de dólar fraco e petróleo forte, me parece uma melhor explicação do real está sendo negociado próximo dos R$ 5,50”, comenta Álvaro Frasson, estrategista macro do BTG Pactual.

O diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos bastante elevado também ajuda a atrair capital para cá, comenta Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

“Além disso, a gente está no fim ou muito próximo do fim do ciclo da alta de juros e, portanto, isso dá mais previsibilidade e maior apetite à renda variável”, afirma.

O interesse maior, no entanto, é no fiscal brasileiro, que pode mudar o jogo completamente. No atual cenário, a pauta em questão são as medidas do governo para substituir a revogação de parte do decreto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Segundo Sung, se houver algum problema na discussão entre o executivo e o legislativo em relação à Medida Provisória (MP) que será apresentada, isso pode aumentar as incertezas fiscais e se refletir no câmbio.

“Mas se a gente aproveitar essa janela de oportunidade que temos agora no terceiro trimestre, antes das eleições, para discutir e conseguir aprovar medidas mais estruturais em relação ao fiscal, vai ser importante para reduzir o risco e até levar o dólar a uma cotação abaixo dos R$ 5,50.”

E o que o mercado está mais de olho - e é um dos principais riscos - são as eleições em 2026.

“Podemos entrar em um momento em uma antecipação de um debate eleitoral, que pode começar a fazer algum preço na moeda. E aí não iremos conseguir explicar por fatores econômicos ou de mercado”, diz Frasson.

Guerra comercial desvaloriza o dólar

A aposta dos grandes gestores está dividida. Ao abrirem a carteira, grandes casas como Verde, Gauss e Kapitalo estão comprados em real – em nenhuma delas essa é uma das posições relevantes, mas a aposta na valorização do câmbio brasileiro está presente.

Do outro lado, Itaú Optimus, ASA e Armor Capital já veem uma possibilidade de depreciação da moeda e apostam em posições vendidas.

Um consenso maior é a desvalorização da moeda americana: Legacy, Ibiuna, Ace, Gauss, entre várias outras estão vendidos em dólar contra diversas moedas, especialmente as fortes, como o euro.

Fato é que a guerra comercial imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desagradou o mercado, que ou a não ver mais os ativos americanos como porto-seguro.

“Essa dificuldade de encontrar alguma resolução, algum equilíbrio, do choque de tarifas, vem trazendo um tipo de desconfiança. O fluxo não está correndo para os EUA por conta dessas políticas de má qualidade”, afirma Frasson.

Isso se reflete em um dólar mais fraco, não só quando você olha o desempenho do real, mas em relação às moedas de todos os emergentes, que se apreciaram no ano.

O Índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de moedas de seis países, incluindo euro, iene japonês, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço, se desvalorizou 9% em 2025. (Na mesma linha, o real acumula valorização de quase 10% no ano.)

Para lá ou para cá

O questionamento do dólar como moeda segura em termos de incerteza causada pelos próprios Estados Unidos faz os impactos da guerra comercial dividirem opiniões.

“A redução de tensões comerciais entre Estados Unidos e outros países aumenta a chance de continuidade do excepcionalismo americano, resultando em um dólar mais forte globalmente”, disse ontem o Itaú BBA em relatório, comentando as notícias de um ‘acordo de Genebra’ entre China e Estados Unidos.

O banco aponta para um dólar a R$ 5,75 em 2025 e 2026 - enquanto o BTG é mais otimista, apontando para R$ 5,60 em 2025.

"Em relação ao acordo fechado com a China, não vejo [que fortalece] o dólar dessa forma agora”, Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital.

“A ideia da reindustrialização necessariamente permeia grandes investimento nos EUA, e para que eles se tornem competitivos, coisa que não acontece hoje, essas empresas precisam se instalar novamente lá, com um dólar alto, isso fica muito custoso e vão para outras alternativas."

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