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Como um ex-condenado construiu um império de US$ 13,6 bilhões vendendo carros usados

Ernest Garcia II é dono da DriveTime, a quarta mais varejista de carros usados, e o maior acionista da Carvana, considerada a Amazon dos carros, nos Estados Unidos

Ernest Garcia II é o maior acionista da Carvana, considerada a "Amazon dos carros", nos Estado Unidos (DriveTime/Divulgação)

Ernest Garcia II é o maior acionista da Carvana, considerada a "Amazon dos carros", nos Estado Unidos (DriveTime/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 27 de maio de 2025 às 09h53.

Última atualização em 27 de maio de 2025 às 12h36.

Em um mercado historicamente dominado por lojas físicas e vendedores de porta de loja, um modelo digital e controverso rompeu a lógica tradicional da venda de automóveis nos Estados Unidos.

E por trás da transformação está um personagem improvável: um americano que tem na ficha uma condenação por fraude, amizade com ex-vice-presidente americano e uma volumosa conta bancária.

Ernest Garcia II é fundador da DriveTime, uma das maiores redes de concessionárias de carros usados do país, e acionista majoritário da Carvana — plataforma digital que promete vender veículos como se fosse a Amazon do setor. Seu filho, Ernest Garcia III, comanda a operação. Juntos, controlam um negócio que em 2024 faturou US$ 13,67 bilhões.

Somando todas as operações, Ernest Garcia II tem uma fortuna estimada em 14,9 bilhões de dólares, de acordo com a lista da Forbes. Já seu filho, Ernest Garcia III, tem uma fortuna de 5,7 bilhões de dólares.

Para o futuro, a expectativa é acelerar. A Carvana ainda detém menos de 1% do mercado americano de carros usados. Em 2024, vendeu 416.348 veículos. O plano é ampliar esse número com mais eficiência e tecnologia, mantendo a margem de lucro e o EBITDA ajustado, que já chegou a 1,38 bilhão de dólares.

A origem do império

O ado de Garcia II é central para entender a trajetória da empresa.

Advogado, Garcia II começou a sua carreira no mercado imobiliário. E foi lá em que obteve a condenação que marcaria a sua história, em 1990, aos 33 anos.

Na ocasião, ele se declarou culpado em um esquema de fraude bancária envolvendo o escândalo da Lincoln Savings & Loan, uma empresa que entrou em falência na virada dos anos 1980 para os anos 1990.

À justiça, itiu ter obtido, de forma fraudulenta, uma linha de crédito de US$ 30 milhões e feito uma série de transações que ajudaram Lincoln a esconder dos agentes reguladores propriedades em terras com risco financeiro no deserto do Arizona. Pela condenação, ficou três anos em liberdade condicional.

Neste período, começou a reconstruir sua vida no setor automotivo.

Comprou por menos de US$ 1 milhão a Ugly Duckling, uma locadora de veículos, transformando-a na DriveTime. O modelo era simples: vender carros usados para consumidores com baixa pontuação de crédito, financiando a compra diretamente com o cliente.

Nos anos 2000, a DriveTime já faturava bilhões.

Em 2012, o filho, Ernie Garcia III, teve a ideia de criar uma nova experiência de compra: 100% online, com financiamento próprio e entrega via vending machines de carros. A Carvana nasceu como uma subsidiária da DriveTime, e depois foi separada, mas seguiu contando com o apoio financeiro e operacional do pai.

Por anos, Ernest Garcia II ficou longe dos holofotes. Não pode deixar de aparecer, porém, em 2017, à Bolsa de Valores de Nova York para acompanhar o filho Ernest Garcia III tocar o sino no IPO na Carvana, em que arrecadou US$ 250 milhões.

A ocasião foi marcada ainda pela entrada de Dan Quayle, ex-vice-presidente dos Estados Unidos na gestão George H. W. Bush, no conselho do e-commerce. A proximidade entre o político e o Garcia II foi determinante a decisão.

O modelo de negócio e os desafios

A Carvana opera como marketplace digital, quase como uma "Amazon" dos carros digitais. O consumidor pode buscar, financiar e receber o carro em casa — ou pegá-lo em uma das famosas vending machines de vidro da empresa. Com isso, a Carvana eliminou parte dos custos fixos do varejo tradicional e apostou em escala.

Ainda assim, o negócio é desafiador.

Boa parte da clientela depende de crédito facilitado, o que aumenta o risco de inadimplência. E, nos últimos anos, a empresa enfrentou altos índices de short sellers apostando na queda das ações.

A virada de 2024, com lucro expressivo e crescimento de 27% na receita anual, marcou um ponto de inflexão para a Carvana.

A dúvida é se o modelo vai se sustentar no longo prazo, com rentabilidade consistente e expansão de mercado.

Garcia III, por enquanto, mantém a ambição de transformar o setor. E o pai, com uma fortuna estimada em US$ 15 bilhões, segue como o grande acionista da operação — mesmo sem aparecer formalmente na diretoria da Carvana. Ambos vivem lado a lado, em casas vizinhas em Phoenix.

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