Raony Phillips e Marisa Maiô: vídeos virais foram criados através da ferramenta de IA generativa do Google, Veo 3 (Edição EXAME)
Repórter
Publicado em 13 de junho de 2025 às 10h52.
Última atualização em 13 de junho de 2025 às 11h00.
Algumas apresentadoras já são sinônimo da TV brasileira, como Xuxa, Eliana e Ana Maria Braga. Mas agora, em tempos de internet, surge uma nova estrela que não precisa de um palco de TV para conquistar o público. Ela é Marisa Maiô, personagem feita através do Veo 3, ferramenta de IA generativa para criação de vídeos do Google. Em apenas uma semana e meia, já acumula 30 milhões de visualizações nos canais oficiais, apareceu no Fantástico e tem parcerias com marcas como OLX e Magazine Luiza. Cada vídeo patrocinado pode chegar a custar até R$ 50 mil por publicação, segundo estimativas do setor.
Quem está por trás das câmeras fictícias é o carioca de 32 anos, Raony Phillips. Desde criança, é encantado pela rainha dos baixinhos, desenhos animados e televisão – paixões que moldaram seus dois maiores projetos criativos. O jovem cresceu com o desejo de um dia criar esses conteúdos que fazem as pessoas rirem. Ele sonhava com os programas de auditório, mas acabou encontrando uma audiência no maior palco que existe: o digital.
Criador de conteúdo desde 2014, Phillips decidiu largar a faculdade de Publicidade depois que a série animada que ele fazia por diversão, “Girls in the House”, viralizar em 2016. "Eu realmente não estava pensando que isso fosse se tornar um trabalho. Estava fazendo porque era divertido, mas acabou virando algo muito maior", diz Phillips.
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A série é produzida inteiramente no jogo eletrônico The Sims 4 – estilo conhecido como machinima. Isso significa que os atores são bonecos digitais e o diretor é Phillips, que controla os personagens via cliques do mouse e um mod (arquivos que alteram o jogo e costumam ser feitos por membros da comunidade).
Mas é o roteiro sarcástico e a dublagem carioca – 90% das vozes são feitas por Raony – que conquistam o público ano após ano. A série de humor mostra a vida de mulheres que vivem juntas em uma pensão, enfrentando situações cotidianas de maneira cômica e irreverente. Cerca de cem personagens já apareceram no universo de “Girls in the House”, de acordo com site feito pela comunidade de fãs.
De lá para cá, foram cinco temporadas – a sexta está em pré-produção –, um livro publicado pela editora Intrínseca e até consultoria para a Electronic Arts, produtora americana por trás do The Sims. E agora, quase dez anos depois, Raony sente que está vivendo tudo de novo com Marisa Maiô.
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Na última terça-feira, 3, as redes sociais foram tomadas por um vídeo de um programa de auditório diferente. Ao invés de elogios, os convidados levam patadas da apresentadora, uma mulher com maiô preto, salto alto, cabelo chanel e um sorriso contagiante, mas que não é nada natural. É inteligência artificial generativa, feita pela ferramenta do Google Veo 3.
A Marisa Maiô é uma criação de Raony Phillips que, assim como "Girls in the House", começou como uma espécie de atempo. A curiosidade do carioca foi aguçada pelos vídeos realistas do Veo 3, como, por exemplo, o vídeo falso de um canguru sendo barrado de entrar no avião. “Primeiro criei algo pensando em enviar para os meus amigos”, diz o jovem de 32 anos.
O prompt descrevendo Marisa era, na verdade, a personagem Embucete de Girls in the House, uma professora de dança dramática e com fisionomia bastante similar ao da apresentadora. Já o roteiro e a situação – um programa na TV no qual a apresentadora é honesta demais – foram criadas porque Phillips queria gerar situações improváveis com a ferramenta, sem pretensão de viralizar. “O brasileiro está usando a IA para fazer palhaçada, né? Virou uma fábrica de memes”, diz.
Assim como Girls, foi o roteiro que fez Marisa virar um sucesso viral e se destacar entre os milhares de vídeos feitos pelo Veo 3. O realismo definitivamente também ajudou. "As pessoas não estão acostumadas a ver uma linguagem assim sendo explorada comercialmente. Ao mesmo tempo, chama atenção o tipo de cenário que conseguimos criar com a IA. É tipo, 'como isso é possível">
Phillips disse que percebeu que o vídeo tinha viralizado mesmo quando contas de memes aram a republicar o conteúdo – o que torna o número exato do alcance de Marisa Maiô impossível de mensurar. "Foi um grande flashback de "Girls in the House", logo o vídeo estava em todo lugar", diz Phillips.
A surpresa de Raony aumentou ainda mais quando marcas, como OLX e Magazine Luiza, começaram a se interessar. "Eu não estava esperando que fosse viralizar tão rápido. As marcas vieram atrás, e eu fiquei tipo, 'Uau, isso está acontecendo de novo'", diz Phillips. Quanto ele ganhou com as publis não foi revelado, mas criadores de conteúdo como Raony, com cerca de meio milhão de seguidores, podem ganhar entre R$ 5.000 e R$ 50.000 por publicação.
Sobre a produção, Phillips revela que o tempo de criação para um vídeo de Marisa Maiô não é tão curto quanto parece. "Às vezes o que demora muito é o roteiro, porque a IA tem suas limitações e a gente precisa tentar controlar o processo para que o resultado fique o mais próximo possível da ideia original", comenta.
Por enquanto, o Veo 3 gera cenas de até oito segundos e o resultado pode demorar até dez minutos para aparecer – e ainda sair totalmente errado. O criador de conteúdo diz que, por exemplo, se a cena mostra três pessoas falando, existe a chance de Marisa falar inglês do nada.
Isso atrasa o processo, o que parece desmotivar Phillips para explorar mais a fundo o mundo de Marisa Maiô. Por enquanto, um vídeo mostrando mais da repórter Juliana nas ruas está nos planos do criador. "Ainda não sei se quero me aprofundar totalmente nesse universo [da IA generativa], mas a ideia de explorar mais ferramentas para criar conteúdo me entusiasma", diz.