Repórter de Negócios
Publicado em 11 de junho de 2025 às 11h17.
Última atualização em 11 de junho de 2025 às 14h52.
Rafael Porto, Thiago Gonçalves e Bernardo Peirão, sócios da Chef Bob: nova fábrica e R$ 50 milhões de receita no radar (Chef Bob/Divulgação)
O setor de pet food vive uma transição. A tradicional ração seca ainda domina os supermercados e pet shops, mas começa a perder espaço para uma categoria nova: a de refeições naturais e refrigeradas, feita com ingredientes "de verdade".
O desafio? Mudar o hábito dos tutores e convencer o consumidor de que vale pagar mais pela saúde do pet, sem deixar de escalar o negócio.
Quem aposta nessa virada é a Chef Bob, uma empresa carioca que começou na cozinha de casa e agora planeja encerrar 2025 com 50 milhões de reais em faturamento.
A marca produz comida natural congelada para cães e gatos, com receitas assinadas por veterinários nutrólogos, e já está presente em mais de 290 pontos de venda.
A história da Chef Bob ganhou novo ritmo no último ano, com a entrada de dois sócio: Rafael Porto, ex-Grupo Trigo (dono do Spoleto, Gurumê e China in Box), e Bernardo Peirão, ex-gerente de comunicação do Botafogo. A chegada da dupla trouxe gestão, estrutura e um plano agressivo de expansão, especialmente no canal B2B.
"Estamos preparando a marca para dobrar de tamanho ano após ano. O novo ciclo exige mais mecanização, tecnologia e um modelo comercial mais robusto", afirma Porto.
O plano para o futuro é ir além. A empresa já tem terreno e incentivos fiscais aprovados para construir uma nova fábrica no Rio de Janeiro, que deve entrar em operação a partir de 2026. A estrutura vai permitir escalar a produção atual, de 3,5 toneladas por dia, para atender supermercados, redes de pet shop e canais de em todo o país.
A Chef Bob nasceu em 2016, a partir da urgência de resolver um problema de saúde. Bob, um shih-tzu de Matheus Ladario (um dos fundadores da marca), vivia entrando e saindo de clínicas veterinárias. “O Bob tinha 5 ou 6 anos e os veterinários diziam que ele não aria daquele ano. Quando mudamos a alimentação, ele viveu até os 15”, lembra Thiago Gonçalves, que acompanhou a criação da empresa desde o início.
Foi um veterinário quem sugeriu à família cozinhar a própria comida do cão. A resposta foi tão positiva que Matheus. Os primeiros pratos eram elaborados com ingredientes frescos e combinação de sabores pouco comuns no setor: frango com hortelã, carne com quiabo, carne moída à moda mineira.
Logo depois, o projeto ganhou o público no programa Shark Tank Brasil, quando Matheus apresentou a ideia com o próprio Bob no colo. Embora não tenha fechado investimento, a exposição ajudou a impulsionar as vendas.
O primeiro espaço de produção foi montado de forma improvisada, nos fundos de uma casa na Taquara, zona oeste do Rio de Janeiro. “A cozinha era pequena, e tudo era feito à mão. Mas já tinha fila de clientes querendo comprar. Era um negócio caseiro com cara de gourmet”, diz Gonçalves. A empresa cresceu no boca a boca e começou a atender outras regiões: São Paulo, Minas, Sul, Brasília e Bahia.
Durante anos, a Chef Bob operou nesse modelo artesanal, produzindo até 4 toneladas por dia com 130 funcionários e sem automação. “Éramos uma grande empresa pequena. Hoje estamos virando uma pequena empresa grande”, diz Gonçalves.
Atualmente focado na venda para o consumidor final, a empresa agora tem uma grande aposta para os próximos anos: o canal B2B, com vendas em redes como Petz, Zee.Now e supermercados de médio porte.
“A meta é levar a alimentação natural para o corredor refrigerado do varejo, como já acontece nos Estados Unidos”, afirma Bernardo Peirão.
A empresa já investe na fabricação de freezers próprios, com capacidade para equipar pontos de venda com identidade visual padronizada.
A estratégia mira o exemplo de marcas como a americana Freshpet, que transformou a categoria de pet food nos Estados Unidos com presença em grandes redes e capital aberto na bolsa.
“O Brasil está anos atrás dos EUA nesse segmento. Lá, é comum encontrar corredores inteiros com refeições congeladas para pets. Aqui, estamos brigando para colocar a primeira geladeira no supermercado”, afirma Peirão.
Escalar um modelo baseado em comida fresca exige enfrentar uma logística mais complexa.
“Nosso maior desafio é o transporte refrigerado e o armazenamento nas lojas. Estamos desenvolvendo soluções inteligentes para isso”, diz Porto.
Outro ponto sensível é o preço.
A alimentação natural ainda é mais cara que a ração comum, o que limita o o a um público de maior renda. Mas, segundo os sócios, o desafio é mais cultural do que financeiro.
“As pessoas acham que é mais caro, mas quando entendem que o pet fica mais saudável, vai menos ao veterinário e vive mais, am a ver valor. É uma quebra de paradigma”, afirma Peirão.
Para reduzir barreiras de entrada, a empresa vai lançar nos próximos meses um clube de , com preços mais íveis e benefícios exclusivos. Também há novos produtos em teste, voltados para diferentes faixas de renda, previstos para o segundo semestre.
O mercado pet no Brasil movimentou mais de 77 bilhões de reais em 2024, segundo a Abinpet. A alimentação representa mais da metade disso. Mas, dentro do segmento, a comida natural ainda é um nicho — e a Chef Bob quer liderar essa frente.
A base de consumo é pequena, mas o crescimento é acelerado.
“A gente cresce muito acima da média do setor. Por isso, implantamos um planejamento de cinco anos. Não dá para pensar curto quando o mercado muda tão rápido”, afirma Porto.
A comparação com o mercado americano mostra o tamanho do potencial. Enquanto a Freshpet tem mais de 20 mil pontos de venda nos EUA, a Chef Bob ainda opera com menos de 300 no Brasil. "É um oceano aberto", diz Peirão. A ideia é acelerar antes que as gigantes da ração tradicional se mexam.