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Ração? Não mais. Esta startup do Rio vai fazer R$ 50 milhões com comida natural para pets

Fundada após alergias de um shih-tzu, a startup aposta em refeições frescas, fábrica própria e venda em redes como Petz para desafiar o domínio da ração tradicional

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 11 de junho de 2025 às 11h17.

Última atualização em 11 de junho de 2025 às 14h52.

Rafael Porto, Thiago Gonçalves e Bernardo Peirão, sócios da Chef Bob: nova fábrica e R$ 50 milhões de receita no radar (Chef Bob/Divulgação)

O setor de pet food vive uma transição. A tradicional ração seca ainda domina os supermercados e pet shops, mas começa a perder espaço para uma categoria nova: a de refeições naturais e refrigeradas, feita com ingredientes "de verdade".

O desafio? Mudar o hábito dos tutores e convencer o consumidor de que vale pagar mais pela saúde do pet, sem deixar de escalar o negócio.

Quem aposta nessa virada é a Chef Bob, uma empresa carioca que começou na cozinha de casa e agora planeja encerrar 2025 com 50 milhões de reais em faturamento.

A marca produz comida natural congelada para cães e gatos, com receitas assinadas por veterinários nutrólogos, e já está presente em mais de 290 pontos de venda.

A história da Chef Bob ganhou novo ritmo no último ano, com a entrada de dois sócio: Rafael Porto, ex-Grupo Trigo (dono do Spoleto, Gurumê e China in Box), e Bernardo Peirão, ex-gerente de comunicação do Botafogo. A chegada da dupla trouxe gestão, estrutura e um plano agressivo de expansão, especialmente no canal B2B.

"Estamos preparando a marca para dobrar de tamanho ano após ano. O novo ciclo exige mais mecanização, tecnologia e um modelo comercial mais robusto", afirma Porto.

O plano para o futuro é ir além. A empresa já tem terreno e incentivos fiscais aprovados para construir uma nova fábrica no Rio de Janeiro, que deve entrar em operação a partir de 2026. A estrutura vai permitir escalar a produção atual, de 3,5 toneladas por dia, para atender supermercados, redes de pet shop e canais de em todo o país.

Qual é a história da Chef Bob

A Chef Bob nasceu em 2016, a partir da urgência de resolver um problema de saúde. Bob, um shih-tzu de Matheus Ladario (um dos fundadores da marca), vivia entrando e saindo de clínicas veterinárias. “O Bob tinha 5 ou 6 anos e os veterinários diziam que ele não aria daquele ano. Quando mudamos a alimentação, ele viveu até os 15”, lembra Thiago Gonçalves, que acompanhou a criação da empresa desde o início.

Foi um veterinário quem sugeriu à família cozinhar a própria comida do cão. A resposta foi tão positiva que Matheus. Os primeiros pratos eram elaborados com ingredientes frescos e combinação de sabores pouco comuns no setor: frango com hortelã, carne com quiabo, carne moída à moda mineira.

Logo depois, o projeto ganhou o público no programa Shark Tank Brasil, quando Matheus apresentou a ideia com o próprio Bob no colo. Embora não tenha fechado investimento, a exposição ajudou a impulsionar as vendas.

O primeiro espaço de produção foi montado de forma improvisada, nos fundos de uma casa na Taquara, zona oeste do Rio de Janeiro. “A cozinha era pequena, e tudo era feito à mão. Mas já tinha fila de clientes querendo comprar. Era um negócio caseiro com cara de gourmet”, diz Gonçalves. A empresa cresceu no boca a boca e começou a atender outras regiões: São Paulo, Minas, Sul, Brasília e Bahia.

Durante anos, a Chef Bob operou nesse modelo artesanal, produzindo até 4 toneladas por dia com 130 funcionários e sem automação. “Éramos uma grande empresa pequena. Hoje estamos virando uma pequena empresa grande”, diz Gonçalves.

Quais são os planos de expansão

Atualmente focado na venda para o consumidor final, a empresa agora tem uma grande aposta para os próximos anos: o canal B2B, com vendas em redes como Petz, Zee.Now e supermercados de médio porte.

“A meta é levar a alimentação natural para o corredor refrigerado do varejo, como já acontece nos Estados Unidos”, afirma Bernardo Peirão.

A empresa já investe na fabricação de freezers próprios, com capacidade para equipar pontos de venda com identidade visual padronizada.

A estratégia mira o exemplo de marcas como a americana Freshpet, que transformou a categoria de pet food nos Estados Unidos com presença em grandes redes e capital aberto na bolsa.

“O Brasil está anos atrás dos EUA nesse segmento. Lá, é comum encontrar corredores inteiros com refeições congeladas para pets. Aqui, estamos brigando para colocar a primeira geladeira no supermercado”, afirma Peirão.

Quais são os desafios pela frente

Escalar um modelo baseado em comida fresca exige enfrentar uma logística mais complexa.

“Nosso maior desafio é o transporte refrigerado e o armazenamento nas lojas. Estamos desenvolvendo soluções inteligentes para isso”, diz Porto.

Outro ponto sensível é o preço.

A alimentação natural ainda é mais cara que a ração comum, o que limita o o a um público de maior renda. Mas, segundo os sócios, o desafio é mais cultural do que financeiro.

“As pessoas acham que é mais caro, mas quando entendem que o pet fica mais saudável, vai menos ao veterinário e vive mais, am a ver valor. É uma quebra de paradigma”, afirma Peirão.

Para reduzir barreiras de entrada, a empresa vai lançar nos próximos meses um clube de , com preços mais íveis e benefícios exclusivos. Também há novos produtos em teste, voltados para diferentes faixas de renda, previstos para o segundo semestre.

Concorrência e mercado: um oceano ainda quase vazio

O mercado pet no Brasil movimentou mais de 77 bilhões de reais em 2024, segundo a Abinpet. A alimentação representa mais da metade disso. Mas, dentro do segmento, a comida natural ainda é um nicho — e a Chef Bob quer liderar essa frente.

A base de consumo é pequena, mas o crescimento é acelerado.

“A gente cresce muito acima da média do setor. Por isso, implantamos um planejamento de cinco anos. Não dá para pensar curto quando o mercado muda tão rápido”, afirma Porto.

A comparação com o mercado americano mostra o tamanho do potencial. Enquanto a Freshpet tem mais de 20 mil pontos de venda nos EUA, a Chef Bob ainda opera com menos de 300 no Brasil. "É um oceano aberto", diz Peirão. A ideia é acelerar antes que as gigantes da ração tradicional se mexam.

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